Pensei, burilei e cheguei à
frase “A magia do livro é em si comportar um universo”. Confirmei no Google em
30/03/2012 o seu ineditismo, pelo menos relativamente à internet e, acho que
isso quer dizer o mundo todo, não é mesmo? Bem, seria preciso pesquisá-la em
outras línguas, mas, com muito mal me defendo única e deficientemente no
inglês, creio que não corro o menor risco de estar plagiando alguém, ou citando
frases alheias sem o devido crédito.
Um livro pode realmente comportar
em si todo o universo. Nesta abrangência, estará o seu grau de magia, milagre,
encantamento e prazer, nunca ligado ao número de páginas ou ao tempo
compreendido em sua narrativa. Parece, e é óbvio, mas para mim, também é mágico.
Como o heterônimo Alberto Caeiro, de Pessoa, “A espantosa realidade das coisas
é a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, e é difícil
explicar a alguém quanto isso me alegra, e quanto isso me basta.” Se o livro
tem dez, cem, mil páginas ou mais, se traz em seu contexto um breve lapso de tempo
ou a trajetória de toda a humanidade, isto tem pouca ou nenhuma importância
quanto ao seu grau de magia. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez envolve
sete gerações, mas este não foi o fato determinante da Obra ser considerada uma
das mais importantes da literatura latinoamericana, tampouco por seu autor ter
sido premiado com um Nobel da Literatura. Em contrapartida o romance Mrs
Dalloway de Virginia Woolf, baseia-se todo em apenas um dia na vida da
protagonista, Clarissa Dalloway, e é brilhante, é famoso, tornando-se ainda
mais conhecido ao servir de base, para o escritor Michael Cunningham desenvolver
o seu “As Horas”. Cunningham teve o livro premiado e adaptado para o cinema com
um filme que, diga-se de passagem, também rendeu prêmios. Quanto ao número de
páginas poderemos comparar volume e peso (mais uma vez “a espantosa realidade
das coisas”), mas de forma alguma a qualidade, mesmo porque, na maioria das
vezes serão propostas completamente diferentes. Como poderíamos comparar o
“Ulisses” de James Joyce com o “Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry senão colocando-os na balança? Literalmente. Se o fizermos, teremos um resultado físico,
matemático, que, aqui não tem a menor importância, uma vez que não é o caso de
escolher qual deles levaremos na mochila. Assim, tanto O Pequeno Príncipe com
cerca de 90 páginas, quanto Ulisses com mais de 900, constam na lista dos 100
livros do século (passado), elaborada pelo Le Monde. É ou não é pura magia? Gabriel
García Márquez e Virginia Woolf também constam na mesma lista, o primeiro com o
próprio Cem Anos de Solidão e Woolf com “Um Teto Todo Seu”. Mrs Dalloway,
contudo, está entre os cem melhores romances escritos em língua inglesa na
lista da revista Time. Magia do Livro!