Mrs. Dalloway, livro de Virginia Woolf, publicado pela primeira vez em 14 de maio de 1925; é centrado em um único dia.
"Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores."
Aí está a primeira frase do romance, que vem a tratar dos preparativos e da efetiva realização de uma festa.
Entre os afazeres necessários a recepção, antigas lembranças e os acontecimentos do próprio dia, desfilam os personagens que, fisicamente ou como assunto, farão parte da festa.
O que interessa à Virginia, o que move o romance, são as pessoas em si mesmas; suas emoções, seus flagelos, expectativas, temores, contradições e tudo o mais que há de genuinamente humano.
Importam à Virginia o indivíduo na sociedade e vice-versa. Importam o peso e a leveza da vida para uns e outros.
"Mas, dentre o grupo, era só de Clarissa que a gente se lembrava. Não que fosse impressionante; bonita, não era; nem tinha nada de original; nunca dizia coisas dignas de nota; mas estava ali; e isso era tudo."
Importam à Virginia o indivíduo na sociedade e vice-versa. Importam o peso e a leveza da vida para uns e outros.
"Mas o sol ainda aquecia. A vida ainda tinha um jeito de adicionar um dia a outro dia".
"Mas em suma, viver, ou não viver, não é um assunto particular?"
Religião, convenções e regras sociais, são sempre colocadas em xeque.
"Assim fora evoluindo para essa religião dos ateus, de fazer o bem pelo próprio bem."
"Embora duas vezes mais inteligente que o marido, via as coisas pelos olhos deste - Uma das tragédias da vida conjugal".
"Nada que se notasse, afinal; nenhuma cena, nenhum ruído; apenas o moroso afundamento, o lento naufrágio da sua vontade na dele.
Os vilões mais facilmente identificáveis são os médicos, especialmente os psiquiatras. Muito provavelmente uma forma de vingança, uma vez que, a partir da repentina morte da mãe, quando tinha então treze anos; Virginia, devido as crises nervosas que, de forma progressiva lhe acompanharam por toda a vida, submetia-se a tratamentos prescritos por tais profissionais. Todavia, não tão passivamente quanto eles desejariam.
"Mas havia também os que eram poetas e pensadores. Suponhamos que ele tivera essa paixão e fora consultar Sir William Bradshaw, um grande médico, mas para ela obscuramente maléfico, sem sexo nem desejo, extremamente atencioso para com as mulheres, mas capaz de algum indescritível ultraje -- violar a nossa alma, por exemplo --, se esse jovem tivesse ido vê-lo e Sir William o houvesse impressionado com o seu poder, não poderia o pobre ter dito (como o sentia agora) que a vida se tornara intolerável? Pois não tornam a vida intolerável homens como aquele?".
E assim, a vida mais uma vez copiaria a arte. Um dos personagens comete suicídio. Como o fez a autora, dezesseis anos após a publicação do livro.
Mrs. Dalloway - Editora Nova Fronteira
Tradução de Mário Quintana.
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